Como pensar as próprias metas por meio da especificidade e pessoalidade
Buscamos todos os dias trabalhar com metas, desde as mais absurdas até as mais possíveis e viáveis de serem concluídas. O trabalho de pensar em metas pode ser por si só árduo e, por muitas vezes, frustrante dependendo da maneira como é feito. Dessa forma, é preciso tratar essa etapa com realismo e cautela, para que a idealização do que se deseja fazer não acabe atrapalhando o que pode ser feito.
Com base no trabalho de “Como ter um dia ideal”, de Caroline Webb, podemos nos ater a diversas dicas e metodologias que permitam o pensar em nossas metas e como poder colocá-las em ação, questões essa que buscarei destrinchar em três diferentes itens.
É muito importante, antes de tentarmos aplicar métodos ou ações de mudança, que reconheçamos algumas questões mais generalistas que acabam nos atingindo. Com relação ao pensar em metas, costumamos ser pouco específicos com relação aquilo que vamos fazer e isso pode se tornar um grande problema. Sabemos que, durante o dia, podemos ter de ligar para alguém, preparar algo para alguma reunião, pensar em alguma pauta específica que foi deixada em branco ou concluir algum serviço, e mesmo que a área de trabalho sua seja diferente (como, digamos, artistas ou produtores de conteúdo), a maneira de pensar quanto as ações que devem ser praticadas não muda tanto. Diversas pesquisas, como as de Edwin Locke e Gary Latham (psicólogos da Universidade de Maryland e da Royal School of Management, respectivamente) indicam que o trabalho de elaborar suas metas pode aumentar em até 15% o desempenho quanto as mesmas.
Portanto, as próprias metas em si podem ser aproveitadas para incentivar ainda mais a sua pessoa a produzir mais. Duas questões que podem pesar muito e colaborar nesse tipo de processo são a especialidade e a pessoalidade na maneira como se pensa suas metas. É preciso ser específico quanto ao se quer e o que se busca completar durante seu dia, como também é preciso entender o que pessoalmente impede que você tome tais ações. Dessa forma, quando forem pensadas, é sempre bom ter em mente:
- Especificamente: quais alterações serão necessárias, e quais atitudes eu irei por em prática a partir disso?
- Pessoalmente: o que pode ser alterado no próprio comportamento para tornar viáveis suas metas e em realidade suas intenções?
Dessa forma, antes de querer em um único dia completar todas as suas metas de imediato, talvez valha abrir mão de uma ou duas em prol de metas que lhe ajudem a compreender a si enquanto pessoa e torná-la alguém mais apto ao trabalho no restante de seu dia. Uma pessoa diurna, por exemplo, acaba sofrendo muito ao ter de trabalhar durante a manhã. Hábitos como uma caminhada matutina ou uma rotina regrada de sono podem ajudar com que as primeiras horas do dia sejam mais bem aproveitadas, e podem ser metas a serem trabalhadas em prol de melhorar a própria performance enquanto trabalhador. Ao mesmo tempo, melhorar a especialidade de suas metas diretamente ligadas ao trabalho irá colaborar com que elas sejam cumpridas, porque a clareza da ação dificultará que atitudes sedentárias ou de auto sabotagem acabem tomando conta. A combinação desses dois tipos de reflexão e o trabalho em respondê-las são ótimas etapas para uma vida de trabalho em que seus objetivos sejam mais claros e atingíveis.
O “porquê” pessoal
O senso de autonomia que cada um de nós tem é um importante fator na hora em que decidimos trabalhar em algo. Acabamos mais motivados quando temos a certeza de que estamos fazendo aquilo por nós, e quando sentimos que as decisões tomadas durante o processo também são nossas.
Pensando em termos psicológicos, as motivações intrínsecas ¾ coisas que fazemos por serem satisfatórias ou terem um significado pessoal ¾ tendem a gerar desempenhos superiores quando comparamos com as motivações extrínsecas, aquela que é motivada por terceiros ou da tentativa de atender a expectativa alheia. Cada uma dessas duas motivações funciona de maneira muito diferente, ao ponto de ativar áreas cerebrais bem distintas. Os pedidos de terceiros costumam ativar o autocontrole e disciplina pessoal, enquanto aquelas metas que nós mesmos estabelecemos ativam nossas próprias necessidades e desejos.
É importante, portanto, pensarmos naquilo que fazemos como coisas que queremos e não apenas precisamos fazer. É natural em qualquer área de trabalho que sejamos forçados a fazer um ou outro serviço por pura necessidade, e nem tudo pode ser apenas uma questão de paixão pessoal, mas é valioso ter em mente porque as coisas que fazemos tem significado e no que elas podem nos acrescentar. Dessa forma, será mais fácil e valoroso atingir algum objetivo depois de ter em mente quais as aspirações ou valores nossos envolvem aquela tarefa do momento, ou em qual sentido os pedidos e ordens podem importar para nós. Ter uma resposta para essas perguntas, no escopo geral, pode nos ajudar a ir adiante com algum projeto ou obrigação que tenhamos de cumprir. Conexões podem ser feitas entre diferentes objetivos ou uma tarefa chata pode ser apenas uma etapa de uma maior, mais importante, e é importante ter sempre claro o por quê de se estar fazendo algo, antes de se fazer.
Como trabalhar as metas ao dividi-las em etapas
Já falamos nos outros dois blogs sobre duas questões importantíssimas: a necessidade de se ter clareza ao montar metas e a importância de razões pessoais para completá-las. Quando vamos pensar nas metas de nosso dia, uma coisa que pode fazer com que esses dois pontos anteriores se convirjam e se atrapalhem é a vontade de concluir diversas coisas em um dia só, como se as metas fossem parte de uma lista de compras.
É importante ressaltar que, por mais que seja gratificante o completar de diversas metas, acabamos tendo mais resultados e temos mais sensação de recompensa quando essas têm foco e são factíveis. Enquanto realizar metas nos promove realização e motivação, não realizá-las também promove o oposto e pode arriscar qualquer planejamento prévio ou motivação pessoal para com elas. De maneira geral, portanto, é melhor não arriscar tudo no objetivo muitas vezes irreal de completar algo distante logo de cara, mas ao invés disso subsidiar em etapas e tornar o objetivo irreal em algo palpável, possível.
Aprender uma língua nova é um exemplo. É quase impossível que um progresso significativo seja sentido em um único dia. Dessa forma, separar em etapas esse objetivo é um caminho mais sensato. Deixar que a meta de um dia seja a pesquisa de cursos e escolas para aprender determinada língua, em um outro separar livros ou filmes de tal idioma que podem acompanhar a introdução e o aprendizado, determinar um horário para consumir coisas apenas daquele determinado idioma. Tarefas complexas como aprender uma língua, começar atividades físicas ou escrever um livro precisam de metas a curto prazo que sejam alcançáveis em prol de manter a determinação para que seus objetivos não acabem na lista do “fazer algum dia”.
Uma boa maneira de se pensar, e assim aliar a especialidade que já falamos no outro blog, é a ideia de fazer metas “quando-então”. Ou seja, “quando isso ocorrer, agirei assim”. Um bom exemplo pode ser as próprias atividades físicas. “Hoje vou fazer exercício” pode ser algo muito vago e com grandes brechas para ser quebrada durante o dia, mas quando nos dispomos a pensar em etapas e com especialidade, damos menos brechas de falhar em nossas próprias ambições. “Quando eu acordar, então vou tomar meu café da manhã e me trocar rápido. Quando eu tomar meu café, então vou para academia fazer quarenta minutos de exercício. Quando eu voltar, então vou olhar meus e-mails pela primeira vez ao dia”. Dessa forma, é possível adaptar as metas e os objetivos mais simples a rotina de cada um, deixando claro para si mesmo o quanto de tempo se terá livre para realizar uma coisa ou outra e quanto de tempo será posto para as metas obrigatórias.
Assim, pode-se pensar em trabalhar com uma variedade de metas, sem que elas se tornem um absurdo que tome seu dia. Sendo menores e mais acessíveis, não tão ambiciosas, é possível aproveitar melhor o próprio tempo. Fazer uma lista para si, separando aquelas tarefas de maior urgência e as que podem ser deixadas em segundo plano. Tendo em mente especialmente as tarefas de seu dia para não ser consumido por objetivos de semanas ou até meses é também uma ótima forma de deixar claro para sua mente o que precisa ser feito e o que pode ser feito.
Um outro importante lembrete é que a produtividade, o trabalho e o objetivo não se tornem uma obsessão ou tomem por completo seu dia. Se possível, descanso e exercício são coisas importantes de estarem em uma lista de tarefas e, dependendo de como forem pensadas e do tempo que se tiver a dispor para elas, acabam se tornando parte de sua rotina e deixam de figurar entre demais preocupações. Dessa forma, tais dicas podem ajudar e muito a pensar melhor o dia a dia, o ambiente de trabalho e a própria forma de enxergar o alcançar de seus objetivos, que com preparo e organização acabam bem protegidos antes de serem enfim postos à prova.
Prof. Dr. Eduardo Filoni
Redação Final: Giovanni Filoni