Ainda que seja ótima a sensação de ter ao fim do dia tudo que planejamos pronto e diante de nossos olhos, é muito mais comum e constante que diante de tantas coisas que temos em nossas listas de tarefas, acabemos muito mais adiando do que resolvendo muito destas. Desde deixar de responder um e-mail, não começar um projeto importante ou coisas mais simples e ordinárias como não concluir alguma tarefa doméstica. Às vezes, podemos nos ver diante de tanto estresse e cansaço que até mesmo postergamos o ouvir de um áudio enviado pelo Whatsapp, independente da importância que este possa ter.
Estamos sempre em busca de concluir as coisas da maneira mais rápida e na maior quantidade possível, o que pode frustrar e muito quando percebemos que as coisas apenas não se resolvem assim. E diante de tarefas em que o ganho não é imediato, mas a longo ou médio prazo, o esforço imediato necessário para realizá-las se torna um complicador que apenas nos afasta mais e mais delas. Somos todos capazes de procrastinar nossos afazeres e mesmo com as melhores estratégias podemos acabar reféns desse hábito. Em dois blogs, irei explicar o por quê disso e como derrotar esses hábitos, inspirado no capítulo 7 do livro Como ter um dia ideal, de Caroline Webb.
A procrastinação acaba sendo uma defesa nossa diante de questões as quais acabamos podendo nos estressar muito ou que se demonstram difíceis de ser realizadas, seja pelo tempo que demandará, pela recompensa que teremos ou por diversos outros fatores que podem variar dependendo de cada um de nós e das situações em que somos colocados. Uma constante, porém, é que a procrastinação acaba sendo essa proteção para nossos estresses e energias que acaba cobrando mais pra frente, mas essa defesa do imediatismo pouco nos faz pensar sobre esses efeitos negativos que virão e acabamos focados naquelas vantagens do agora (mais tempo para lazer, a sensação de relaxamento por não precisar lidar com aquele problema, etc.). Acabamos omitindo o futuro em prol de justificar esse vácuo que estamos deixando no presente, que sem dúvidas traz sim sensações imediatas muito boas, mas pode nos estagnar em um mesmo lugar ou trazer problemas muito sérios pro futuro, dependendo daquilo que se decide procrastinar.
Por vezes, nem mesmo sabemos muito bem os motivos do por quê procrastinamos. Mais do que preguiça, esse tipo de defesa psicológica precisa realmente ser pensado quando o objetivo é quebrar tal hábito, sendo um exercício muito mais constante do que damos conta. Diante disso, ainda que em uma escala macro as questões comentadas acima sejam motivos importantíssimos do por quê procrastinamos, a série de perguntas dos “cinco por quês” tende a ser eficaz para que identifiquemos de maneira individual quais os problemas e as barreiras as quais criamos para nós.
Grande parte de nosso tempo somos levados de maneira automática pelos nossos dias, com nossos medos e inseguranças tendo um papel constante no impedimento de nossos objetivos, já que eles estão sempre ali conduzindo parte de nossa consciência. Por fim, podemos acabar graças a isso evitando de ir em frente com algum projeto ou objetivo e fazemos isso repetidas vezes, mesmo que seja angustiante, e nesses momentos pode ser importante buscar refletir sobre os motivos pessoais que nos trazem tais angústias. Quando com tempo e diante de situações, essa técnica dos cinco por quês pode, com muita calma e paciência, instigar a nós mesmos a compreender aquilo que nos compromete. Esse exercício tem tal nome por ser uma referência ao fato de que as raízes dos problemas tendem a emergir no quinto “por quê”, ainda que muitas vezes no terceiro ou quarto as respostas já tendam a estar bem visíveis.
As perguntas não são uma listinha, mas sim de ordem bastante pessoal. “Por que eu não completei essa tarefa?”. “Por que penso isso sobre mim”. É importante ser sincero consigo e tentar buscar quais as possíveis origens do problema, podendo ser tanto existenciais quanto de um caráter bastante prático e social que dificultem o fazer. Dessa forma, talvez você não possa simplesmente parar com toda e qualquer procrastinação, mas ter uma visão mais ampla sobre os motivos das coisas estarem assim dá bagagem para poder lidar com elas de maneira mais justa e sincera consigo próprio e, principalmente, como mudá-las. A procrastinação pode ter um caráter tanto social quanto pessoal e, geralmente, é uma mescla de ambos e, portanto, tem diversos fatores a serem considerados.
A procrastinação tem uma fonte bem clara e evidente vinda da nossa psique: evitamos com muito mais frequência aquelas tarefas que tendem prometer benefícios e recompensas de longo prazo, mas que precisam de esforço imediato para serem cumpridas. É a primeira e mais clara barreira que precisamos evitar e costuma ser também uma das mais difíceis de se transpassar, porque não só é difícil realmente colocar esforço em algo que não trará resultados imediatos, como por vezes não temos tempo ou capacidade de colocar nosso esforço em algo que só veremos o resultado (emocional, financeiro, físico, etc.) em um período de semanas, meses ou até anos.
Isso acontece muito por questões materiais de tempo e dinheiro, mas também num lado comportamental de costumarmos ter mais facilidade de avaliar o presente, que nos é conhecido por estar sempre ao nosso redor, do que o futuro que tende a ser incerto. Aquilo que nos é imediato tende a ser mais atrativo e mais recompensador, demandando menos energia em prol de algo que sabemos que teremos resposta, ao contrário de algo que pode demandar muito mais energia, mas que os resultados só ficarão visíveis depois de um período incerto. Para isso se inverter, podemos pensar em formas de fazer com que começar não seja um trabalho tão árduo e que haja benefícios nesse processo.
Duas formas disso são ainda assim visualizando o futuro, alocando as expectativas quanto aos benefícios que colocar seus projetos em prática terá e, ao mesmo tempo, fazer com que também seja analisado quais os malefícios que terão de ser lidados caso isso não ocorra. Pensar sobre a estagnação na qual pode acabar se os projetos não forem cumpridos, nas dificuldades que podem ser criadas dentro e fora do trabalho… ser sincero quando ao que de bom pode vir, mas também ao que de ruim pode acontecer, é uma forma de se enxergar a balança de possibilidades. Um outro tipo de pressão que pode ser usada de forma positiva é a de se assumir compromissos com os outros diante de seus objetivos. Como um exemplo pessoal, posso dizer que sempre ajuda expressar verbalmente com alguém que eu vou para academia, especialmente nos dias em que menos quero ir, e esse tipo de reafirmação e compromisso com o outro ajuda a mim a me forçar a cumprir aqueles que são compromissos comigo mesmo. Expressar e assumir responsabilidade com os outros pode ajudar a nós a colocarmos adiante aquilo que talvez tivéssemos dificuldades se tentássemos fazer apenas por nós mesmos. Pensar sobre os cinco por quês, mencionados no blog anterior, também é uma maneira de se derrotar a procrastinação, sendo todos métodos que quando postos em conjunto podem ajudar nessa superação que, como eu mencionei no primeiro blog, é uma atividade diária que se assemelha muito mais a um exercício do que damos conta. E um muito importante porque pode ser suficiente para fazer uma drástica mudança em sua saúde física, mental ou profissional.
Prof. Dr. Eduardo Filoni
Revisão e Redação Final: Giovanni Filoni